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SOLIDÃO É ASSIM

Solidão é assim: estou no meu quarto, sozinha, mas eu queria ter alguém com quem conversar. Solidão também pode ser assim: estou no meio de uma festa muito animada, mas eu ainda sinto falta de ter alguém com quem conversar. Solidão também mora no passado. Quando éramos felizes, meu Deus, e só agora nos damos conta disso. Solidão é quando não sabemos se o passado foi mais feliz ou se a felicidade está bem aqui e não conseguimos perceber. Solidão dá esse nó na garganta, que dói quando engolimos tudo o que não temos com quem falar. Solidão faz o olhar ficar perdido, procurando, cadê? Cadê, meu Deus, essa resposta que nunca eu encontro? – Mas, qual é a pergunta? Qual é a pergunta, afinal? Qual é a pergunta que te tranca no quarto, que te imobiliza no passado, que te esvazia o presente? – questionaria Deus, talvez. Era tudo tão bonito quando ela era ainda uma criança, e escrevia no caderno da escola histórias cujos personagens eram as rainhas e os super-heróis, saídos da sua própria imagina

FUNDAMENTAL É SER FELIZ

Deixei o meu primeiro namorado porque, mesmo depois de longos anos de relacionamento, ele ainda não queria se casar comigo. Deixei o meu último namorado porque, poucos meses depois de nos conhecermos, ele me pedira em casamento. Difícil de entender? Pode ser. Mas explicações razoáveis existem para as coisas exatas, como eu aprendi arduamente nas aulas de matemática e física. Coração é poesia. O mínimo que se pode fazer é tecer perguntas e mais perguntas sobre aquele texto que se esvai pelo ar, feito música. E, por mais que tente, você não o aprisiona nem em teoria, nem em tabela comparativa, nem em certeza nenhuma. Coração é pergunta. Amor é pergunta. Será que agora vai dar certo? Mas o que é “dar certo”? Casar e ter responsabilidades; viver as delícias de um namoro ardente; guardar as lembranças boas de amores passados; ou sustentar a interminável busca pelo amor perfeito? Onde é que estão escritas essas definições? Nunca as encontrei em nenhum livro de poesias. Poesias. O ar estava c

PELA CONTRAMÃO

“A felicidade sempre iria ser clandestina para mim.” Clarice Lispector A pergunta desmoronou sobre a minha cabeça. O que te faz feliz? Nó na garganta. Eu já sentia o meu rosto queimando, enrubescido. Respiração curta, os olhos percorreram as outras quase trinta faces que olhavam para mim. O que me faz feliz?! Sim! Qualquer coisa, responda! Qualquer coisa, qualquer coisa... Eu pensava. O texto que dera apoio àquela aula da faculdade tremia em minhas mãos. Falava das coisas mais simples e mais prazerosas que há nesse mundo: banho de chuva, dia de sol, sorriso de criança, café com leite de manhã. Mas eu não queria pinçar uma resposta. Eu queria que a resposta existisse em mim, e que fosse verdadeira. Foi desconcertante. Eu não respondia. Podia ter dito qualquer coisa que estivesse listada ali naquele texto que havia acabado de me arrancar alguns sorrisos. Mas não. A felicidade assim, descrita por outra pessoa, soa leve, romântica. Mas não perguntem sobre a minha felicidade. Não sei onde

UMA BREVE EXPLICAÇÃO!

Os textos abaixo foram publicados, originalmente, no jornal "O Colatinista", nas edições de fevereiro a outubro de 2008. A crôncia "Retrato em Verde" foi premiada no concurso literário "Nossa gente, Nossas Letras - 2007", realizado pelo Instituto Oldemburg de Desenvolvimento, e publicada num livro, junto com as outras crônicas vencedoras, sob o selo da Editora Record. Espero que gostem!

CRÔNICA BALZAQUIANA

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“[...] nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.” Mário Quintana Apesar de já ter sido católica, devo ter me confessado a um padre apenas uma ou duas vezes na vida. Como isso foi durante a adolescência, devo ter-lhe dito que me arrependia de dizer palavrão, de responder mal à minha mãe, e de discutir com uma ou outra amiga, de vez em quando. Lembro que foi muito constrangedor aquele momento da confissão. Será que isso vale como pecado? Será que não esqueci alguma coisa? Será que só fiz isso? Mas aí veio a penitência, que não era tão grande assim: duas ou três orações, que fiz rapidinho, ajoelhada no altar da igreja. E, então o alívio. A dívida já era menor. Pronto, agora era só tomar cuidado. Principalmente com o que eu dizia. Sempre falei muito. Mas muito pouco de mim. Até que, um dia, morando longe da família e dos amigos, aprendi o que era a solidão. Como o orelhão era desconfortável e o celular, caro; voltei a escrever. Páginas e páginas de um caderno enfeitadinho de

NO MEU LUGAR

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Não foi durante toda a minha vida que morei em Colatina. Cinco anos atrás, parti para Aracruz, a trabalho, e lá permaneci durante quase quatro anos. Quatro anos: muito e pouco tempo. Aracruz: perto e longe. Fui sozinha, minha família ficou. E, sozinha, comecei a traduzir a mim mesma, me conhecer. Sempre o mesmo renascer sempre. Pensei em não mais voltar a morar aqui, em seguir em frente a minha aventura e ir para outras cidades, conhecer novos lugares, novas pessoas. Proclamar a minha independência. Exercer, plenamente, o meu direito de ir e vir. Eu ainda alimentava a idéia triste de que voltar atrás pode demonstrar fraqueza, ou fracasso. Mas a vida tem seu senso de humor. E, um dia, houve o retorno. Voltei a ocupar o meu lugar no quarto da casa que continuava minha; na cidade que continuava minha. Sim, houve o retorno. Dos meus pés para os paralelepípedos das velhas ruas da infância; dos meus olhos para as paisagens ora confusas, ora bonitas desta cidade, ora confusa, ora bonita. Nova